O BOM PASTOR

O BOM PASTOR
“Eu sou o Bom Pastor.. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas”.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A CURA DE UM OBSEDIADO


Mateus 12:22-30

22. Então foi-lhe trazido um obsidiado cego e mudo, e curou-o de modo que o cego e mudo tanto falava quanto via. 23. E admirou-se toda a multidão e dizia: "Não é este o Filho de David"? 24. Ouvindo-o, os fariseus disseram: "Este não expele os espíritos (obsessores) senão por Beelzebul, chefe dos espíritos". 25. Conhecendo, porém, Jesus as reflexões deles, disse-lhes: "Todo o reino dividido contra si mesmo será desolado, e toda cidade ou casa, dividida contra si mesma, não subsistirá. 26. Se o adversário expulsa o adversário, está dividido contra si mesmo; como então subsistirá seu reino? 27. E se eu expulso os espíritos (obsessores) por Beelzebul, por quem os expelem vossos filhos? Por isso eles mesmos serão vossos julgadores. 28. Mas se por um espírito de Deus eu expulso os espíritos (obsessores), então já chegou o reino de Deus sobre vós. 29. Ou como ,pode alguém entrar na casa do (homem) forte e roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo? e então lhe saqueará a casa. 30. Quem não está comigo, é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha". Marcos 3:22-27 22. E os escribas, que tinham descido de Jerusalém. disseram: "ele tem Beelzebul", e "porque pelo chefe dos espíritos (obsessores) ele expulsa os espíritos (obsessores)". 23. Tendo-os então chamado, disse-lhes em parábolas: Como pode o adversário expulsar um adversário? 24. E se um reino se dividir contra si mesmo, esse reino não pode subsistir. 25. Se uma casa se dividir contra si mesma, essa casa não pode permanecer. 26. E se o adversário se levantou contra si mesmo e se dividiu, ele não pode subsistir, mas tem fim. 27. pois ninguém pode entrar na casa do (homem) forte e roubar-lhe os bens, sem antes amarrá-lo; e então lhe saqueará a casa".

Lucas 11:14-23

14. Estava Jesus expulsando um espírito (obsessor) e este era mudo; e aconteceu que, tendo saído o espírito (obsessor), falou o mudo e maravilhou-se a multidão. 15. Mas alguns deles disseram: "É por Beelzebul, príncipe dos espíritos (obsessores) que ele expele os espíritos ("obsessores)". 16. Outros, para experimentá-lo, Pediam-lhe um sinal celeste. 17. Conhecendo-lhes, porém, os pensamentos, disse-lhes: "Todo reino dividido contra si mesmo se esvaziará e cairá casa sobre casa. 18. Também se o adversário se dividir contra si mesmo, como subsistirá seu rei:no? dizeis que eu expulso os espíritos (obsessores) por Beelzebul. 19. Se eu expulso os espíritos (obsessores) por Beelzebul, por quem os expelem vossos filhos? Por isso serão eles mesmos vossos julgadores. 20. Mas se pelo dedo de Deus eu expulso os espíritos (obsessores) então chegou a vós o reino de Deus. 21. Quando o (homem) forte, bem armado, guarda sua casa, seus bens estão em paz. 22. Mas quando sobrevier outro mais forte que ele e o vencer, tira-lhe toda a armadura em que confiava e reparte seus despojos. 23. Quem não está comigo, é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha".

Mateus e Lucas expõem o fato que provocou a discussão entre Jesus e os fariseus, escribas e doutores da lei, discussão que se estenderá violenta ainda por alguns capítulos.
Foi-lhe trazido um obsidiado (daimonizómenos, isto é, dominado por um espírito obsessor, ver vol. 1o., pág. 137-138) , cujo perseguidor espiritual o mantinha cego e mudo (Lucas diz apenas "mudo"). Não é esclarecida a origem do caso; mas para atribuir-se a mudez e a cegueira à ação do espírito, deve ter ocorrido após o nascimento, já se havendo comprovado a possibilidade física de a vítima ter, naturalmente, a capacidade de ver e falar. Jesus atende ao caso e parece que o desligamento foi instantâneo: o ex-obsidiado passa logo a falar e enxergar. Ora, isso constitui um espetáculo inédito para os presentes, de tal forma maravilhando-os, que alguns desconfiam seriamente tratar-se do Messias ("Filho de David").
Outro episódio semelhante é narrado em Mat. 9:33-34, mas as circunstâncias variam. Não obstante, Lagrange, (o.c. , pág. 241) julga que as duas narrativas se referem ao mesmo caso, embora Pirot (o.c., 9o. vol., pág. 158) e Dausch (Die drei altern Evangelien, 1932, pág. 194, citado por Pirot) distingam um de outro.
Neste ponto comecam os fariseus e "escribas provenientes de Jerusalém" (nota de Marcos) a lançar sua campanha de descrédito contra o taumaturgo, com a acusação mais insensata que possa ser imaginada nesses casos. Havia, nas sinagogas, os exorcistas "oficiais (cfr. os ilhos de Ceva, At. 19:14) que obtinham êxito por meio da prece (sema) ou da recitação do Salmo 92, ou servindo-se de jejuns e outros ritos. Jesus, ao contrário, de nada se utiliza: ordena, e a libertação é feita. Donde lhe vinha tal poder? O povo vê certo intuitivamente: "de Deus". Mas os que temem a concorrência, e não querem perder o prestígio, levantam maldosa e conscientemente a hipótese absurda e insensata, que até hoje permanece válida nas religiões organizadas. Com isso, pretendem assustar as criaturas simples e tímidas, fazendo-lhes crer que só eles estão com Deus. . . E a frase parte, mentirosa e cheia de veneno (e repetida até hoje pelos descendentes dos fariseus): "é por Beelzebul que ele expulsa os espíritos obsessores"!
BEELZEBUL, está em todos os códices unanimemente e significa "senhor do fumeiro". A Vulgata modificou o termo para Beelzebub, "senhor das rnoscas", para identificá-lo com o Baal de Accaron (Ekron ), consultado por Ocozias (2o. Reis, 1:2, 3, 6 e 16).
Perguntam os hermeneutas por que Beelzebub se transformou em Beelzebul. Lembremos que também o filho de Saul, Ishbaal "homem de Baal" (cfr. 1o. Crôn. 8:29-40 e 9:35-44) teve seu nome mudado para Ishboseth "filho da vergonha" (cfr . 2o. Sam. 2: 28, etc). Alguns supõem que isso visava a ridicularizar o nome do deus (espírito-guia) do povo filisteu, que era rival do deus (espírito-guia) do povo israelita. Strack & Billerbeck, ao comentar este passo (citado em Pirot, o.c. v. 9o. pág. 158) apresentam a hipótese de que as duas palavras são independentes. E cita: "sacrificar ao deus de Israel é zâbâh; ora, o sacrifício era feito com fogo. Por ironia. talvez. a fim de dizer que os holocaustos aos outros deuses só produziam fumaça, foi empregada a palavra zâbai, que significa "fumeiro". Daí o sacrifício "idolátrico" ser dito zebel e a oferta zibbul. Ora, Beel-zibbul pode ter-se abrandado em Beelzebul, que passou a designar o "chefe do fumeiro", ou seja, qualquer espírito-guia diferente de YHWH.
Segundo Marcos, Jesus chama os discípulos para perto de si e lhes expõe a resposta à objeção frágil e insensata. Começa afirmando que um "reino" ou uma casa dividida contra si mesmos, não poderão subsistir. Qualquer luta intestina é sumamente prejudicial ao crescimento e progresso; antes, leva facilmente ao desfazimento e à ruína. Este é um princípio tão evidente que se torna argumento irretorquível. Daí é deduzida a ilação: satanás não pode lutar contra satanás, senão seu reino cai em ruína. Aqui temos um dos passos que comprovam que "satanás", não é a personificação de um ser, como pretendem certas teologias, mas a generalização de um princípio; e com isto concordam Lagrange (o.c., pág. 242) e Pirot (o.c., 9o., pág. 159).
Além desta resposta racional e sensata, vem o argumento ad hominem: se assim fosse, por quem os expulsariam os "vossos filhos"? Os exorcistas das sinagogas bem sabem que a força divina é a única eficiente nesses casos. Eles, que têm prática, serão os julgadores autorizados dos fariseus, nessa questão.
E prossegue a argumentação, apertando os contendores em círculos férreos. Se a libertação do obsidiado não é pela força adversária do próprio chefe, logicamente só pode sê-lo por "um espírito de Deus" (em grego não há artigo). E se assim é, então estamos em pleno "reino de Deus", que já chegou à humanidade, já chegou "sobre vós" (eph'humãs, cfr. Dan. 4:21). Observe-se que pela primeira vez aparece aqui a expressão "pelo dedo de Deus" (en daktylôi theoú), reproduzindo Ez. 8 :19; 31:18; Deut. 9:10; Salmo 8:4).
O Mestre apresenta, então, uma parábola, no gênero mâchâh, tão usada desde o V.T. (cfr. 2o. Sam. 12:1-15, sobre o homem rico e a ovelha; e Is. 5:1-17, sobre a vinha), ou seja, uma comparação desenvolvida, diferindo da alegoria, que é uma série de metáforas.
Para saquear-se a casa do homem forte, é mister primeiro segurá-lo e amarra-lo. Sem o que, impossível será roubar-lhe os bens. Ora, para pilhar-Ihe a casa, só um homem mais forte o conseguiria. Parece haver aqui uma alusão a Henoque (10:13 e 54:4) que afirma que, nos tempos messiânicos, os obsessores seriam amarrados. O mesmo é declarado, no "'Testamento de Levi" (sectio 13o.).
Esses são os argumentos que os espiritistas tem as mãos, para responder aos ataques das igrejas organizadas, lembrando aos acusadores que o próprio Jesus já havia previsto essa espécie de desleal combate, quando advertiu: "se chamaram Beelzebul ao dono da casa, quando mais o farão a seus familiares" (Mat. 10:25). Com isso comprova-se que os espiritistas são, realmente, os "familiares de Jesus", pois neles se realiza a advertência profética do Mestre: as mesmas acusações infundadas e maldosas.
O caso finaliza com uma sentença: "quem não está comigo, é contra mim; quem comigo não ajunta, espalha". Strack & Billerbeck, em seu comentário a este passo, trazem vários exemplos de ditos judeus do Talmud, donde se conclui que havia uma expressão "juntar", que significava "não-fazer": juntar os pés", queria dizer "não-andar"; assim "espalhar" exprimia "fazer": espalhar os pés, significava "andar". Então, a segunda parte da sentença seria uma confirmação, em paralelo, da primeira: quem não junta (se reúne) comigo, espalha (isto é, faz um caminho inútil, perdendo seu tempo).
A lição para a individualidade não apresenta segredos: está clara no texto. Observemos o modo de agir de Jesus, já salientada uma vez (vol. 3o. página 58): Jesus não perde tempo em doutrinar o obsessor: cura o obsidiado. O Mestre tinha capacidade para VER de quem era a culpa, coisa que ainda não podemos fazer. E como sabemos que, em muitos casos, o obsessor é o menos culpado, já que é o encarnado que o obsidia, não podemos discernir culpas nem culpados, então, para não corrermos o risco de ser injustos, atendemos aos dois concomitantemente, doutrinando o obsidiado e o obsessor. A diferença de ação depende da nossa incapacidade de distinguir os casos, de saber se o carma já se completou ou não; ignoramos qual o responsável, quais as causas, quem tem razão, etc. Enfrentamos, pois o problema em seu conjunto.
Sabemos, todavia, que isso nos trará aborrecimentos e perseguições, tanto por parte de encarnados presos a preconceitos de "escolas" (religiosa ou cientifica), quanto por parte dos próprios obsessores e de seus amigos. Alegremo-nos, portanto, quando formos acusados de vencer neste campo "por obra do inimigo": estaremos seguindo as pegadas do Mestre e colocando-nos na inconfundível e invejável posição de Seus discípulos e familiares.
Outro ponto a salientar é a parábola do "homem forte". Alude isso à força que realmente possuem os espíritos obsessores, sobretudo se reunidos nas assembléias organizadas no plano astral, com o fito de arrastar os encarnados para sua inferioridade, por espírito de vingança e em vista da intimidade que com eles tiveram em outras vidas. E também, em certos casos, por verificarem que algumas criaturas, que aparentam e fazem questão de demonstrar virtudes e qualidades e, no entanto, secretamente agem de modo totalmente oposto.
Entretanto, ensina-se taxativamente que, embora fortes, sempre o bem é mais forte que o mal, sempre a luz espanta as trevas.
A última lição é uma advertência séria para todos nós: "quem não está comigo é contra mim". Plenamente real. Todo aquele que ainda não esteja unido ao Cristo, está ligado ipso facto a personagem, o "satanás" opositor do espírito. Está, pois contra Ele. E assim a segunda parte: "quem comigo não ajunta, espalha". Qualquer colheita que façamos no campo da personagem é um desperdício que de nada serve. Para haver realmente lucro, mister colher no Espirito, unidos ao Cristo, não importando que seja por meio da personagem, mas desde que não seja só na, e para a personagem.
Desliguemo-nos da matéria, do transitório, das sensações, das emoções, do intelectualismo, dos ritualismos, pomposos e ocos: tudo isso é um "espalhar" de energias, inútil e prejudicial até, porque dai nada de concreto espiritualmente levaremos, para a união com o Cristo Interno. Mas se, ao invés, nos unificarmos com Ele, tudo isso nos virá espontaneamente, por acréscimo. Fundidos no Todo, teremos o Todo, seremos o Todo. Desligados Dele, o vazio é nossa herança.
(Extraído do Livro "Sabedoria do Evangelho" - Carlos Torres Pastorino)

A CURA DE UMA OBSEDIADA


A Cura de uma Obsediada

Carlos Torres Pastorino

Lucas 13:10-17

  1. Estava (Jesus) ensinando numa das sinagogas, nos sábados,
  1. e eis uma mulher tendo, havia dezoito anos, um espírito enfermo; e estava recurvada e não podia levantar a cabeça até o fim.
  1. Vendo-a Jesus chamou-a e disse-lhe: "Mulher, foste libertada de tua enfermidade".
  1. E pôs as mãos sobre ela, e imediatamente levantou a cabeça e cria em Deus.
  1. Respondendo, o chefe da sinagoga, indignado porque Jesus curava no sábado, dizia à multidão que "há seis dias nos quais se deve agir; nesses então vindo, curai-vos, e não no dia de sábado".
  1. Respondeu-lhe, porém, o Senhor e disse: "Hipócritas, não solta cada um de vós, no sábado, seu boi ou seu jumento da mangedoura, levando-os a beber?
  1. E sendo filha de Abraão, esta que o antagonista incorporou há dezoito anos não devia ser solta dessa ligação no dia de sábado"?
  1. Dizendo ele isso, envergonharam-se todos os seus opositores, e toda multidão se alegrava de todas as coisas famosas feitas por ele.

Lemos aqui mais uma cura' de certa mulher obsidiada. Jesus ainda fala, aos sábados, nas sinagogas dos judeus (embora seja esta a última vez que Lucas o assinala). Ao falar, num dos sábados, percebe na assistência uma criatura com um obsessor preso a ela, forçando-lhe a cabeça para baixo, porque ele mesmo era doente. O narrador não assinala nenhum pedido dela nem dos outros, mas talvez tenha havido uma intercessão no astral. Apiedado, Jesus chamou-a e anunciou-lhe a cura efetuada ao aplicar-lhe um passe de descarga, com a imposição das mãos, cuja força magnética era extraordinária.

Sendo sábado, o chefe da sinagoga - zeloso observador da lei mosaica e das prescrições tradicionais dos fariseus - zanga-se, e dirige-se ao povo, parecendo temer falar diretamente àquele Rabbi poderoso. Não nega o fato: reconhece-o. Não o culpa, mas acusa os assistentes de "trazerem seus doentes justamente no sábado". E, para dar ênfase à sua reclamação, cita os termos da lei (Êx. 20:9) : "Seis dias trabalharás" . . . Pois que nesses dias tragam seus enfermos para serem curados.

O orador do dia retruca com a energia que lhe outorga sua autoridade, acusando os fariseus de "hipócritas", pois soltam jumentos e bois da mangedoura e os levam a beber, no sábado, e vêm protestar quando Ele solta da ligação de um espírito enfermo uma irmã de crença, filha de Abraão, como eles! O eleito da reprimenda causou mal-estar e vergonha aos fariseus, e produziu alegria ao povo, que se regozijou com a cura e com a resposta de Jesus.

Há duas observações a fazer, ambas no campo do Espiritismo.

A primeira é o fato da obsessão, tão comum entre as criaturas, de qualquer raça ou credo. Dizem os exegetas que era "crença" dos judeus daquela época que algumas doenças fossem causadas por obsessores. Mas aqui é o evangelista que afirma categoricamente, com sua autoridade de médico diplomado, que a mulher NÃO ESTAVA enferma, mas que TINHA UM ESPÍRITO ENFÊRMO (gynê pneuma échousa astheneías). E ao falar, o próprio Jesus confirmou o FATO; não a suposta crença: "a qual o antagonista incorporou há dezoito ano (hên édêsen ho satanäs idoú déka kaí okto étê). O verbo édêsen, aoristo ativo de édô, tem o sentido de LIGAR, prender amarrando, agrilhoando, vinculando, e uma boa tradução dele é "incorporou", que, na realidade, é uma ligação fluídica que prende a vítima. Não se trata de agrilhoar fisicamente, mas no plano astral: logo, é uma incorporação. Caso típico, estudado e explicado pelo Espiritismo e milhares de vezes atestado nas sessões mediúnicas.

Observe-se, quanto à tradução, a diferença entre desmós, que é a ligação (de édô, ligar, amarrar) que tanto pode referir-se à matéria quanto ao astral, e phylakês, que é a cadeia, prisão material, entre quatro paredes (1).

Na mediunidade dá-se, exatamente, a ligação fluídica, que amarra o espírito ao médium. A isso chamam "incorporação", embora o termo não exprima a realidade do fenômeno, pois o espírito não "entra no corpo" (in - corpore), mas apenas SE LIGA.

A segunda observação é quanto ao método da libertação o "passe", ou "imposição das mãos". O verbo utilizado, epitíthêmi (também no aoristo ativo epéttêken) significa literalmente "colocar sobre", "pôr em cima". As anotações evangélicas não falam em "passe" no sentido de movimentar as mãos, mas sempre no de colocar as mãos sobre o enfermo (cfr. Mat. 9:18; 19:13, 15; Marc. 5:23; 6:5; 7:32: 8:23,25; 16:18; Luc. 4:40; 13:13; At. 6:6; 8:17,l9: 9:12,l7; 13:3; 19:6; 28:8; 1a. Tim. 5:22).

Esse derrame de magnetismo através das mãos serve para curar, para retirar obsessores, para infundir o espírito (fazer "incorporar") ou para conferir à criatura um grau iniciatico que necessite de magnetismo superior do Mestre.

O passe foi utilizado abertamente por Jesus e Seus discípulos, conforme farta documentação em Evangelhos e Atos, embora não fossem diplomados por nenhuma faculdade de medicina (o único médico era Lucas). Hoje estariam todos condenados pelas sociedades que se dizem cristãs, mas não seguem o cristianismo. O próprio Jesus, hoje, teria que responder a processo por "exercício ilegal da medicina", acusado, julgado e talvez condenado pelos próprios "cristãos".

O passe com gestos e com imposição das mãos (embora só produzindo efeitos em casos raríssimos) continua a ser praticado abundante e continuadamente, ainda que com outro nome, nas bênçãos de criaturas e de objetos, sendo o movimento executado em forma de cruz traçada no ar e, em certos casos, colocando as mãos, logo a seguir, sobre o objeto que se abençoa.

A lição aqui ensinada é de interesse real. Além da parte referente ao Espiritismo, aprovado e justificado com o exemplo do Mestre em Seu modo de agir, encontramos outras observações.

Por exemplo, Lucas salienta que a ligação ou incorporação do obsessor enfermo durava havia dezoito anos , quando se deu o desligamento. Esse numero dezoito aparece duas vezes neste capítulo, pois também foram dezoito as vítimas do desabamento da torre de Siloé. Façamos, pois, uma análise rápida do arcano DEZOITO, para depois tentar penetrar o sentido do ensino.

No plano divino, simboliza o abismo sem fundo do Infinito; no plano humano, denota o crespúsculo do espírito e suas últimas provações; no plano da natureza, exprime as forças ocultas hostis do Cosmo.

Baseando-se nesses ensinos ocultistas, observamos que os números citados por Lucas tem sua razão de ser. As forças ocultas hostis da natureza (não personalizemos: são forças cegas, fundamentadas em leis cientificas, que nada cogitam a respeito de carmas humanos, embora possam ser utilizadas pelos "Senhores do Carma", em ocasiões determinadas, para atingir objetivos desejados) agem de acordo com os impulsos das leis de atração e repulsão, de causa e efeito, de gravidade (centrípeta) e de expansão (centrifuga). No entanto, se seus resultados beneficiam (arcano 7), nós as denominamos "benéficas"; se nos causam prejuízo (arcano18), as dizemos "hostis". Em si, porém, elas agem, essas forças da natureza material, sem ligação com as vidas dos homens. Daí a queda da torre de Siloé que, por terem sido esmagadas criaturas humanas, foram julgadas hostis, o que foi traduzido com o número dezoito.

No plano do homem, esse mesmo arcano simboliza "o crepúsculo do espírito e as últimas provações". Daí ser dito que a mulher obsidiada o estava havia dezoito anos, ou seja, finalizara sua provação. Este caso difere do da mulher que tinha o fluxo sangüíneo (Mat. 9:20-22; Marc. 5:25-34; Luc. 8:43-45; vol. 3o., pág. 62) e que "se sacrificava" havia doze anos.

Já aqui sabemos que existiu uma provação, ou seja, uma experiência que devia ser suportada, a fim de provocar uma melhoria. Como chegara ao fim o período probacional, e como a vítima estava totalmente resignada (tanto que não solicitou sua cura) o Mestre lhe anuncia que foi libertada, passando, a seguir, a desligá-la do obsessor. Ela não foi libertada por causa dos passes, mas mas por causa do término da prova; os passes foram o meio de efetuar o desligamento já obtido antes, pela aprovação nos exames da dor. Por isso, a contradição aparente nos tempos de verbo: "foste libertada"... é feita a imposição das mãos... ela se cura.

Uma das lições a deduzir é que as "provações" constituem experimentações, uma espécie de "exames", para verificar o grau de adiantamento do espírito: se aprendeu a comportar-se nas lutas e tristezas, com a mesma força e equanimidade com que enfrenta os momentos de alegria e prazer. Vencida a prova, superado o exame, o espírito é libertado da prova: ascende mais um passo evolutivo.

Outro ponto a considerar é que a realização iniciatica só se efetua na prática da vida. Simples e lógica a ciência, mas vale apenas na aplicação vivida do dia-adia. Só essa prática experimental transforma um profano num iniciado, e não o conhecimento teórico intelectual nem os títulos que ele ou outrem agreguem a si. Assim, uma experiência dolorosa e longa suportada com heroísmo é mais apta a elevar um espírito, que o simples estudo intelectual. Mas cada criatura recebe apenas o que está preparado a receber, segundo a idade de seu espírito e o estágio atingido em suas encarnações atual e anteriores.

As palavras de Jesus, consideradas sob este prisma, adquirem novo significado: os homens que ainda se acreditam ser apenas o corpo, apegados ao animalismo, dão valor às datas (sábados) e à parte animal (jumento e boi), mas não conseguem vislumbrar a altitude que adquiriu o espírito que já se tornou "filho de Abraão", ou seja, que está ligado ao "Pai-Luz" (cfr. vol. 3o.pág.11) que deu origem. Embora o intelecto racionalista (os opositores) e houvesse envergonhado da interpretação involuída que havia dado, a "multidäo" das células de todos os veículos se alegrou com a ação do Cristo Interno.

A imagem trazida com a "mulher' recurvada" é maravilhosamente bem escolhida: é a criatura tão obsidiada por preconceitos que chega a andar curvada sob o peso dos preceitos e das exigências descabidas, que lhe são impostas pelos legistas. Há que libertar-se a humanidade desse peso inútil e prejudicial, adquirindo conhecimento que a coloque no nível de filhos de Deus, que só reconhecem o Espírito. "Ora, o Senhor é o Espírito, e onde há o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2 Cor. 3:17).

(1) Confrontem-se os passos: desmó. Marc.7:35; Luc. 8:28:13:16; Atos 16:26; 20:23; 23-29; 26.29; Philip,1:7,13,14,17; Col. 4:18; 2a. iTm. 2:9; Phm. 10.13: Heb. 11:36 e Judas 6; e phyakês,-. Mat. 5:25; 14:3,10; 18:30; Marc. 6:17, 27; Luc. 3:20; 12:58; 21:12; 23:19, 25 ; Jo. 3:24; At . 5:19, 22,25; 8:3; 12:4, 5, 10,17, 16,23, 24, 27, 37, 40; 22:4; 26:10; 2a. Cor. 6:5; 11:23; Heb. 11:36; 1a. Pe. 3:19 e Ap. 2:10 e 20:7.

(Extraído do Livro "Sabedoria do Evangelho" - Carlos Torres Pastorino)

A AÇÃO DOS OBSESSORES


Mateus 12:43-45

43. "Mas quando o espírito não purificado tiver saído do homem perambula por lugares áridos, buscando repouso, e não o acha.
44. Então diz: "Voltarei para minha casa donde saí", E ao chegar, encontra-a desocupada, varrida e arrumada.

45. Vai, então, e leva consigo sete outros espíritos piores que ele, e ali entram e habitam, e a condição posterior desse homem Torna-se pior que a anterior. Assim acontecerá também a esta geração má".

Lucas 11:24-26


24. "Quando o espírito não purificado tiver saído do homem, perambula por lugares áridos, procurando repouso; e não o achando, diz: "Voltarei para minha casa donde saí".
25. E, ao chegar, acha-a varrida e arrumada. 26. Depois vai, e leva consigo outros sete espíritos piores que ele, e, tendo entrado, aí habitam; e a condição posterior desse homem torna-se pior que a anterior".

Como Mateus a coloca depois do episódio do "pedido de um sinal celeste", e Lucas a situa antes, preferimos não estabelecer nenhuma ligação lógica entre esse fato e o ensino aqui dado, deixando-o como lição autônoma.
Na interpretação vulgar, entendemos a advertência como relativa às obsessões, devendo ter sido dada em conexão com algumas das libertações de obsessores, executada por Jesus, e talvez a mais recente, a do cego mudo.
O Mestre firma doutrina a respeito da técnica obsessiva por parte dos desencarnados. Perfeito conhecedor do assunto, pode revelar-nos com segurança há dois mil anos, uma coisa que o ocidente só ficou sabendo, por experiência direta, há um século, com os estudos do Espiritismo de Allan Kardec e seus seguidores.
O obsessor - espírito não purificado ( a kátharton) e, por conseguinte, não esclarecido (mas não se use o termo contundente e descaridoso "imundo": afinal é um "espírito" filho de Deus, como nós!) - liga-se a uma criatura por quem sente ódio e sede de vingança. Ora, o ódio é o desequilíbrio de um amor, frustrado por qualquer motivo: e quanto maior o amor, mais fundo o ódio. Uma vez ligado fluidicamente à criatura - ou, na linguagem evangélica. "tendo entrado nele" - o obsessor passa a usufruir de todas as sensações e emoções da vítima, ao mesmo tempo que lhe injeta todas as suas próprias sensações, emoções e pensamentos, estabelecendo-se, assim, tenebroso, intercâmbio de vibrações barônticas, muito desagradáveis para o encarnado, embora aprazíveis para o perseguidor.
Ocorre que, quando, por ação externa, é ele desligado de sua vítima, se vê coagido a permanecer pervagando no plano astral que, mutável como é , apresenta a cada entidade o aspecto condizente com sua evolução. Em se tratando, pois de entidades não evoluídas, a ambiência astral manifesta-se como a exteriorização da imaginação de cada um: região ainda inóspita, árida ("sem água" = anhydrôn), cansativa porque sem postos fixos de referencia, já que é instável, onde o "espírito" não encontra repouso, porque sua desorganização mental faz que aí os sítios se modifiquem a cada alteração do pensamento. O repouso (ou paz) só poderia provir de seu próprio âmago, de seu coração: e justamente aí reside a insatisfação frustrada e a rebeldia inconformada, que se projetam no intelecto, o qual, ao pensar, plasma os ambientes pavorosos em seu redor.
Quando, porém, se vê desligado da vítima e aliviado das pressões fluídicas que o expulsaram daquele posto avançado da luta em que vivia empenhado, se sente descontrolado e confuso e tenta voltar. Ao chegar. novamente atraído pela sintonia vibratória - alguns obsidiados registram sensações desagradáveis pela ausência do peso do perseguidor a que estavam habituadas, e esse "vazio" faz que subconscientemente de novo o atraiam para junto de si - percebe que há dificuldade em influenciar a antiga vítima: a "casa" está "desocupada, varrida e arrumada". Significa isso que a personagem visada já se corrigiu de alguns defeitos colocou em ordem suas emoções, reequilibrando sua aura e se libertou das falsas imagens sugeridas pelo perseguidor espiritual. Talvez, até, tente injetar-lhe novos quadros astrais inferiores, sem encontrar ressonância: perdeu: a antiga ascendência.
Regressa, então, descorçoado, mas não desanima de seus objetivos. Consegue, nas rodas de entidades semelhantes a si, outros sete "piores que ele". A decepção com a evolução de quem ele considera seu inimigo, faz nele crescer proporcionalmente a raiva e o desejo insano de derrubá-lo do ponto atingido, e não aceita obstáculos a seu ódio implacável. Ao lado dos sete novos "amigos", e já a eles subjugado porque devedor de um obséquio que será cobrado até o último centavo e mais os "juros" - embora eles só aceitem a empreitada quando vêem possibilidades de auferir boas vantagens de baixo teor - o ataque é renovado. E a condição última torna-se pior que a anterior.
Jesus termina prevendo e predizendo que assim aconteceria aquela geração má - ou melhor, "enferma" (ponerá) - que não está assimilando a profundidade de Seu ensino.
A lição desdobra-se em profundidade maior que a aparente. A escala de valores, como sempre, aplica-se a diversos graus, segundo a interpretação que pode ser dada.
Em primeira plano aparece, sem dúvida, a lição literal, que vimos acima. Trata-se do que realmente ocorre nos casos de obsessão e possessão, por parte de espíritos desencarnados. O texto é claro: é o exemplo da vida diária. Fatos corriqueiros.
Há outra interpretação: após a "conversão" de uma criatura, do materialismo ou da descrença, à espiritualidade, verificamos que foi dela expulso um "espírito atrasado": o da dúvida. Mas logo depois, com a "casa vazia, limpa e arrumada", surgem outros sete espíritos piores, que são: a vaidade de ter alcançado aquela compreensão; o convencimento de sua capacidade pessoal em melhorar; o orgulho de haver galgado um passo a mais na evolução: a auto-satisfação da crença de que realmente é um eleito; a pretensa superioridade que o faz acreditar-se melhor que "os outros"; a arrogância que descaridosamente despreza os outros pecadores; e o pior de todos, a invigilância que se supõe infalível em suas opiniões, em seus julgamentos, em suras condenações.
Esses sete espíritos piores - muito piores - que o materialismo e a descrença, passam a morar naquele indivíduo, cujo estado se tornou muito mais grave do que antes. Huberto Rohden tem uma frase que descreve bem esse caso tão típico e, infelizmente, tão comum nos espiritualistas de qualquer religião. "Livre-me Deus de minhas virtudes, que de meus vícios eu me livrarei".
No entanto, a última frase profética de Jesus, relatada por Mateus, e que amplia o conceito do individuo para a coletividade, abre-nos o horizonte para uma terceira interpretação. Diz "e assim acontecerá a esta geração" .
Essa profecia é facilmente verificável, agora, após vinte séculos, em sua realização comprovada.
Aqueles homens que ingressaram no cristianismo, embora o cristianismo não tivesse ingressado neles, e que, portanto, não perceberam o âmago, a base, a profundidade do ensino de Cristo, foram exatamente os que se apoderaram do poder, imbuídos da convicção de se haverem libertado do "espírito" do paganismo e do judaísmo. Expulso aquele espírito, todavia, outros sete piores vieram neles habitar. Convenceram-se de que eram os melhores, quiçá os únicos que realmente compreendiam e interpretaram a verdadeira religião cristã, numa vaidade sem limitações; incharam de convencimento a ponto de se intitularem, eles mesmos, os legítimos e indiscutíveis representantes de Deus na Terra, herdeiros dos "Apóstolos", fundamentando-se, para isso, no lugar geográfico em que se encontravam, e não no espírito que possuíam; encheram-se de orgulho, certos de que eram "donos de Deus" e chegaram ao cúmulo de se julgarem por Ele obedecidos, podendo determinar "por decreto", aqueles que deviam habitar o céu ( e mesmo, durante certa época o fizeram, até o lugar do céu que deveriam ocupar . . . ); dormiram sobre os louros das conquistas de seus postos, com a auto-satisfação de que eram "escolhidos", os "eleitos de Deus", os "privilegiados" do planeta; felicitaram-se com a pretensa superioridade de que, quem os não seguisse, estaria condenado, e desprezaram, perseguiram, e espezinharam outros povos, destruindo documentos e monumentos que - por não provirem deles - eram julgados "diabólicos"; cresceram em sua arrogância desmesurada, torturando, queimando, e assassinando, em "nome de Deus" e como delegados Seus, todos aqueles que se lhes não queriam submeter; e finalmente caíram na pior das invigilâncias, solenemente decretando-se a si mesmos como sendo infalíveis, pois o que diziam era o próprio Deus que falava por sua boca. A profecia de Jesus cumpria-se ad litteram : "nem um iota" . . .
No capitulo 17 do Apocalipse há outros pormenores proféticos a respeito da "Babilônia a grande" (v . 5),. "instalada sobre sete colinas" (v . 9) e que está "embriagada (satisfeita, feliz em sua irresponsabilidade) com o sangue dos mártires (testemunhas) de Jesus", tanto que o vidente "ficou estupefacto ao vê-la" (v. 6).
(Extraído do Livro "Sabedoria do Evangelho" - Carlos Torres Pastorino)