O BOM PASTOR

O BOM PASTOR
“Eu sou o Bom Pastor.. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas”.

domingo, 12 de setembro de 2010

O EU - PROFUNDO



O “EU” PROFUNDO
João, 14:1-14
(Tradução literal)
1. “Não se turbe vosso coração: crede em Deus
e crede em mim.
2. Na casa de meu Pai há muitas moradas;
senão, ter-vos-ia dito que vou preparar lugar
para vós?
3. E se eu for e preparar lugar para vós, de
novo volto e vos tornarei junto a mim, para
que, onde estou, também vós estejais”
4. E para onde vou, sabeis o caminho”.
5. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para
onde vais; como poderemos saber o caminho?
6. Disse-lhe Jesus: “Eu sou o caminho da Verdade
e da Vida: ninguém vem ao Pai senão
por mim.
7. Se me conhecesses, conheceríeis também
meu Pai; e agora o conheceis e o vistes”,
8. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e
basta-nos.
9. Disse-lhe Jesus: “Há tanto tempo estou convosco
e não me conheceis, Filipe? Quem me
vê, vê o Pai. Como dizes tu: mostra-nos o
Pai?
10. Não crês que estou no Pai e o Pai (está) em
mim? As palavras que vos falo, não falo por
mim mesmo: o Pai que habita em mim faz
as obras dele.
11. Crede-me que eu (estou) no Pai e o Pai em
mim; se não, crede nas próprias obras.
12. Em verdade, em verdade vos digo: o fiel a
mim, fará as obras que eu faço e fará maiores
que elas, porque vou para o Pai,
13. e tudo o que pedirdes em meu nome, isso
farei, para que o Pai se transubstancie no
Filho.
14. Se me pedirdes algo em meu nome, eu farei”.

(Sentido real)
1. “Não se turbe vosso coração: sede fiéis à
Divindade e ao Eu.
2. Na casa de meu Pai há muitas moradas:
senão, ter-vos-ia dito que o Eu vai preparar
lugar para vós?
3. E se o Eu for e preparar lugar para vós, de
novo volta e vos tomará junto a si, para que
onde esteja o Eu estejais vós também.
4. E para onde vai o Eu, sabeis o caminho”.
5. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para
onde vais, como poderemos saber o caminho?
6. Disse-lhe Jesus: “0 Eu é o caminho da Verdade
e da Vida: ninguém vem ao Pai senão
pelo Eu.
7. Se conhecesseis o Eu, conheceríeis também
meu Pai e agora o conheceis e o vistes”.
8. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e
basta-nos.
9. Disse-lhe Jesus: “Filipe, há tanto tempo o
Eu está convosco e não o conheceis? Quem
vê o Eu, vê o Pai. Como dizes tu: mostranos
o Pai?
10. Não crês que o Eu está no Pai e o Pai no
Eu? As palavras que vos falo, não falo por
mim mesmo: o Pai que habita no Eu faz as
obras dele.
11. Crede-me que o Eu (está) no Pai e o Pai no
Eu; senão, crede nas próprias obras.
12. Em verdade, em verdade vos digo: o fiel ao
Eu fará as obras que faço, e fará maiores
que elas, porque o Eu vai para o Pai,
13. e tudo o que pedirdes em nome do Eu, isso o
Eu fará, para que o Pai se transubstancie no
Filho.
14. Se pedirdes algo em nome do Eu, o Eu
fará”.
Inicialmente, alguns esclarecimentos a respeito do texto literal, para posterior comentário exegético e
simbólico em que se procurará alcançar o sentido real das palavras do Cristo.
Parece que, de fato, os discípulos se achavam perturbados com os acontecimentos que se precipitavam
naqueles dias tumultuados e cheios de acontecimentos imprevisíveis para eles. Daí a recomendação
inicial. O segundo membro do versículo é traduzido pelo indicativo ou pelo imperativo, já que pisteúete
é forma comum a ambos os modos. Optam pelo indicativo: Agostinho, a Vulgata, Beda, Maldonado,
Knabenbauer, Tillmann, Lagrange, Durand. Preferem o imperativo: Cirilo de Alexandria, João
Crisóstomo, Teofilacto, Hilário, Joüon, Bernard, Huby; e o imperativo coaduna-se muito mais ao contexto.
A frase: “se não, ter-vos-ia dito que vou preparar lugar para vós”?, deixamo-la como interrogativa,
conforme se acha na margem da tradução da Escola Bíblica de Jerusalém (1958), na Revised Standard
Version (1946), na New English Bible (na margem, 1961), em Die Heilige Schrift (Zurich, 1942), em
The Greek New Testament de Kurt Aland (1968), em Le Nouveau Testament, de Segond (1962) e na
tradução de Lutero (revidierter Text, 1946) - lendo todos hóti como recitativo (Bauer e Bernard). Realmente,
é muito melhor contexto, do que a leitura afirmativa que se acha em Wescott e Hort, The
New Testament in the Original Greek (1881), em Bover, Novi Testamenti Biblia Graeca et Latina
(1959), em Nestle-Aland, Novum Testamentum Graece (1963), em He Kaine Diathêke, da Sociedade
Bíblica Britânica e Estrangeira (1958), na Revised Version of New Testament (1881), na American
Standard Version (1901), em The New English Bible (1961), na Translation for Translators (1966).
No Evangelho, anteriormente, não há a frase literal citada aqui, mas em João, 12:26 há um aceno:
“onde eu estou, aí estará meu servidor..” Agostinho (Patrol. Lat. vol. 35, col. 1814) abandona a interpreta
ção de “casa de meu Pai” como lugar geográfico, afirmando que “Cristo prepara as moradas de
Seus discípulos, ao preparar moradores para esses lugares”.
O Pai que “habita” ou permanece (mánôn) em mim (en emoi) faz as obras dele (poieí tà érga autoú)
conforme também se acha em João, 5:19; 7:16; 8:28; 10:38 e 12:49.
Para o idioma grego, não teria sido difícil escrever claramente, tal como o fazemos em português, os
pronomes pessoais, embora conservando-lhes as características casuais, como independentes: seria
possível empregar diante deles os artigos, para esclarecer o sentido. Exemplifiquemos com a frase:
Egô eimi he hódos kai he alêtheia kai he zôê: oudeís érchetai pròs tòn patéra ei mê di’emou,
que poderia, a rigor, talvez, escrever-se:
TO EGÔ ESTIN he hódos kai he alêtheia kai he zôe: oudeís érchetai pròs tòn patéra ei mê
dià TOU EMOU.
No entanto, jamais encontramos essas construções em qualquer autor, donde concluímos que, ou os
gregos não na aceitavam absolutamente, ou não interessava ao evangelista falar abertamente. Terceiro
argumento: quem falou, não foi Jesus, o ser humano, mas o CRISTO manifestado através dele (dià
autoú).
Temos, por conseguinte, que interpretar corretamente as palavras do Cristo, de acordo com o conhecimento
que a humanidade já adquiriu, e de acordo com a assertiva do Cristo mais adiante (João,
16:12-13): “Ainda muitas coisas tenho que vos dizer, mas não podeis compreender agora. Mas todas
as vezes que vier aquele, o Espírito Verdadeiro (o “Cristo Interno” ou o Eu Profundo ), ele vos conduzirá
a toda Verdade”.
Não interessava a manifestação plena do conhecimento do EU, para a massa popular e para os profanos,
mesmo altamente situados na sociedade, mormente durante o longo período de obscurantismo e
despotismo vigente na kaliyuga: aproveitar-se-iam os chefes embrutecidos da confusão do Eu profundo
(Individualidade) com o eu menor (personagem) para atribuir àquele as ambições deste, a fim de
oprimir mais ainda os pequenos e fracos. Importava que eles temessem o Deus Transcendente, que podia castigá-los nesta e na “outra vida”. Indispensável, pois, que tudo permanecesse na bruma,
oculto aos profanos, pois os verdadeiros evoluídos perceberiam tudo por si mesmos, mediante sua
ligação com o plano superior. E isso ocorreu, sem dúvida, com indiscutível frequência, em todos os
climas, produzindo alguns dos denominados “santos” e todos os “místicos”. E ainda hoje verificamos
que criaturas, sem elevação, confundindo os dois planos conscienciais, julgam tratar-se do Eu profundo,
quando estão apenas lidando com o eu menor cheio de falhas. E o pior é que carreiam após si
numerosos discípulos, aceitando o título de “mestres”, etc.
Obedecendo às' orientações recebidas, damos, neste capítulo, ao lado da tradução literal do texto
grego, o “sentido real do ensino, de acordo com o nível atual do desenvolvimento espiritual da humanidade.
Talvez agora ainda muitos estranhem essa nova interpretação, mas muitos haverá que se regozijarão
com ela, pois sentem e sabem essas coisas, apenas ainda não nas haviam lido nos Evangelhos.
E com o decorrer o tempo, ao chegarem à Terra as novas gerações que se preparam para deslanchar
o impacto da renovação das criaturas no terceiro milênio, tudo se tornará tranquilamente
compreensível. E o avanço que, por esse meio, poderão dar os espíritos será incalculável, pois terão
em suas mãos as chaves que lhes abrirão as portas até agora reclusas; só no Oriente fora revelado
claramente esse ensino, mas ninguém se arriscou a ler o sentido real dos Evangelhos, dando de público
essa interpretação legítima. Atrevemo-nos a fazê-lo (embora reconheçamos que ainda não atingimos
o ponto mais elevado, pois outros sentidos há, mais profundos ainda, que não estão a nosso alcance)
para quebrar todos os tabus da “letra que mata”, e abrir passagem aos mais capazes, descendendo
o caminho a trilhar: as vias do Espírito.
*
* *
“Não se turbe vosso coração: sede fiéis à Divindade e fiéis ao Eu”. O coração, como vimos (col. 59,
pág. 114), é o local onde reside o átomo monádico, ligação direta com o Eu Profundo e com o Cristo
Interno. Se aí penetrar a perturbação, todo o ser se descontrola. Importa menos a perturbação do
intelecto, pois só a personagem seria envolvida. Mas quando o descontrole - pela dúvida - atinge o
coração, tudo desmorona, porque se altera a ligação profunda.
Para que não advenha perturbação ao coração, é indispensável manter firme e inalterada a união ou
fidelidade à Divindade e ao Eu profundo, que é o Espírito que com a Divindade sintoniza: essa a única
maneira de evitar-se qualquer perturbação espiritual. Se ocorrer perturbação, e consequente desligamento
sintônico do Eu, e portanto da Divindade, o descontrole do Espírito se comunicará irremediavelmente
à personagem, que entrará em colapso espiritual, animalizando-se nas mais perigosas
emoções. É quando a criatura manifesta sinais evidentes de alteração do caráter, revelando desinteresse
e indiferença pelas coisas mais sérias, susceptibilidade, negativismo, impulsividade, oposição e
hostilidade a tudo o que é espiritual, irritabilidade e agressividade, além de reações coléricas contra
os melhores amigos, obstinação, desconfiança e reações de frustração, com hiperemotividade nos
círculos sociais que frequenta e nos empregos, egocentrismo e egoísmo, que coloca seu eu pequeno
como a coisa mais importante a ser atendida, além ainda de instabilidade psicomotora e afetiva, ora
amando ora odiando as mesmas pessoas, o que leva a embotamento do psiquismo, diminuindo sua
sensibilidade às intuições e inspirações e advindo daí todos os desajustamentos imagináveis, que tornam
a criatura insociável.
Portanto, todo o segredo da PAZ que defende o Espírito contra qualquer ataque, é a absoluta fidelidade
sintônica com o Eu e com a Divindade, de tal forma que NADA consiga abalar sua segurança e
sua confiança granítica no Cristo Interno que o dirige e cujas vibrações ele permanentemente PERCEBE
em si mesmo, no âmago mais profundo do ser. Podem vir ataques pessoais contra ele, do plano
astral ou do material; podem seus amigos mais íntimos traí-lo ou menosprezá-lo ou agir contra ele;
podem seus amores abandoná-lo; pode sua situação financeira cair em descalabro; pode tudo ruir a
seu lado e avalanches de perseguições envolvê-lo, e a doença martirizar-lhe o corpo - continuará IMPASSÍVEL
em sua paz interior, porque NADA O ATINGE: seu Eu está mergulhado no Cristo, como
um peixe nas. profundezas do oceano, onde não chegam as tempestades e borrascas que agitam a superfície em vagas gigantescas: ele possui em si a PAZ que o Cristo dá: “MINHA PAZ vos dou, MINHA
PAZ vos deixo”.
“Na Casa de meu Pai há muitas moradas. Alguns interpretam materialmente: há muitos planetas habitados.
Outros acham que são os diversos planos ou graus conseguidos no “céu”. Supõe certo grupo
que se trata de locais espirituais, que servem de habitação aos espíritos desencarnados. Ainda pode
interpretar-se como referência aos numerosos planos evolutivos das criaturas ainda presas à carne. E
também pode, a “Casa do Pai”, neste trecho, referir-se a Shamballa, onde permanece o Pai (Melquisedec)
com o Grupo de Servidores da Humanidade, a Fraternidade Branca. O Mestre Jesus, Chefe do
Sexto Raio (“Devoção”) já saíra da “Casa do Pai” e agora regressava para assumir seu posto; e lá
prepararia os lugares destinados a seus discípulos mais avançados. Mais tarde, voltaria a eles e,
quando largassem seus corpos físicos, os tomaria consigo para fazerem parte do corpo de Seus. emissários
junto às criaturas como membros de Seu Ahsram. Assim permaneceriam nos milênios seguintes
sempre junto a Ele, só retomando ao corpo físico quando fosse indispensável para alguma missão
vital, como ocorreu, por exemplo, com João o Evangelista, que mergulhou na carne como Francisco
de Assis.
Mas, para o momento atual da humanidade que quer evoluir realmente, a mais clara compreensão do
trecho é a que damos na tradução para o “sentido REAL”. Trata-se do CRISTO que fala, e não do
Mestre Jesus; daí ser óbvia a interpretação segundo os diversos níveis evolutivos em que a “Casa do
Pai”, o Templo de Deus, que é o ser humano, pode encontrar-se “morando”; e devemos salientar que,
nesta longa conversa com Seus discípulos, a expressão “morar” ou “permanecer” é repetida ONZE
vezes.
O Eu profundo, que inspira a personagem por Ele plasmada de um lado, enquanto do outro lado permanece
unido ao Pai, precisa recolher-se em certas situações junto ao CRISTO, a fim de fortalecer-se,
para depois novamente fixar-se na personagem, fazendo-a unir-se à Individualidade, para a seguir
atraí-la a Si: “para que, onde esteja o Eu, estejais vós também”.
Repitamos o processo: a personagem transitória, que pertence ao mundo mentiroso da ilusão, precisa
transferir sua consciência para o nível superior da Individualidade, para então poder unificar-se com
o Eu profundo. Só depois disso poderá unificar-se com o CRISTO interno, e através deste, que é
“Caminho”, se unificará ao Pai, que é a Verdade e a Vida. O “Espírito verdadeiro” (CRISTO) absorverá,
dominando-o e vencendo-o, o “espírito mentiroso” da personagem terrena.
Quando isso ocorrer, teremos a unificação completa da Individualidade que peregrina evolutivamente
através das muitas personagens transitórias, com o Eu profundo; e “naquele dia, conhecereis que o
Eu está no Pai, e vós no Eu, e o Eu em vós” (João, 14:20). E daí a conclusão: “E para onde vai o Eu,
sabeis o caminho”, isto é, o processo a seguir.
Já muitas explicações haviam sido dadas; no entanto, muitos dos discípulos ainda confundiam o Eu
maior com o eu menor; confundiam o Cristo com Jesus.
Isso ocorreu com Tomé (como o comprovará sua dúvida a respeito da “ressurreição”), que ingenuamente
indaga, referindo-se à personagem de Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais; como poderemos
saber o caminho”?
A evidência de que não se tratava de caminho físico-geográfico é a resposta de Jesus: “O EU é o Caminho
da Verdade e da Vida: ninguém vem ao Pai senão pelo Eu”!
Aqui temos que alongar-nos para que fique bem clara e comprovada nossa tradução.
O texto diz, literalmente: “Eu sou o caminho e a verdade e a vida”. A repetição do “e” (kai) no segundo
e terceiro elementos, dá-nos a chave para compreender que se trata de uma hendíades (cfr. col.
1 e vol. 5) A tradução, para dar idéia do sentido real, deve respeitar a hendíades, para que não fique
“ilógica”: a Verdade e a Vida, são a meta, que não pode confundir-se com o “caminho” que a elas
leva. Jamais diríamos: “este é o caminho E a cidade”, mas sim “este é o caminho DA cidade”; “caminho”,
em si, nunca poderá constituir um objetivo: é o MEIO para chegar-se ao objetivo, à meta. Ora, sendo o CRISTO cósmico, (individuado em Jesus, mas NÃO a criatura humana de Jesus) que
falava, podia o CRISTO dizer: “EU sou o caminho que leva à Verdade (ao Pai) e à Vida (ao Espírito,
o Santo)”.
Sendo o EU de cada um de nós (o EU profundo) a individuação do CRISTO, a tradução mais perfeita,
para evitar qualquer dúvida, é a do sentido real: “O EU é o caminho da Verdade e da Vida”. Em
qualquer ser, “que já tenha Espírito” (cfr. João, 7:39, col. 6.º pág. 172), o EU ou Cristo interno é,
sem a menor dúvida, o caminho, o meio, pelo qual se alcança o objetivo da evolução: a Verdade e a
Vida.
E a comprovação plena de que nossa interpretação é fiel e verdadeira, está na segunda parte da frase:
“ninguém vem ao Pai senão por mim”, ou melhor, “senão pelo EU”. Ninguém “vem”, pois estando o
Eu, o Cristo e o Pai unificados, o verbo só pode ser “vir”, e não “ir”, que daria idéia de um local
diferente daqueles em que eles estariam.
Se o Pai é a Verdade, e o Espírito é a Vida, e se o Cristo é o “Caminho”, a frase está perfeita: Ninguém
chega ao Pai, senão através do caminho (Cristo). Então, não é, certamente: “Caminho E Verdade
E Vida”, mas sim: “Caminho DA Verdade e DA Vida”.
Sendo o Cristo UM com o Pai, objetam que, indiscutivelmente também Ele é Verdade e é Vida. Certo.
Mas na expressão específica dada neste versículo, o Cristo respeita o que havia dito: “O Pai é maior
que eu” ou “que o EU” (João, 14:28, col. 6.º pág. 163), e O coloca como objetivo, pondo-se na condição
de caminho que a Ele leva. Acresce, ainda, que, referindo-se ao EU em todas as criaturas, quis
salientar que o EU de todos é o intermediário, através' do qual se chega ao Pai (Verdade) e ao Espírito
ou Divindade (Vida). Tanto que prossegue: “Se conhecêsseis o EU, conheceríeis também o Pai: e
agora O conheceis (no presente do indicativo) e o vistes” (no pretérito perfeito).
“Agora o conheceis”, pois com Sua força cristônica fê-los experimentar a união, quase que por osmose
de Sua presença, naquele átimo revelador. Por isso, já falou no passado: “e o vistes”: fora um
instante atemporal.
Mas Filipe não se satisfez. Queria talvez ver com seus olhos físicos ou astrais, um “ser” com forma:
“mostra-nos o Pai”. É o verbo deíknymi (cfr. vol. 49 pág. 92), que exprime o ato de revelar, por uma
figura física, uma verdade iniciática. Ora, jamais isso seria possível. Daí a resposta taxativa do Cristo,
procurando fazer compreender a Filipe que o EU lá estava ligado a eles, pois já haviam atingido,
evolutivamente, o nível em que o EU se individualiza. E lá estavam ligados a Ele. Será que depois de
tanto tempo, ainda O não conheciam? Será que ainda viviam presos à ilusão transitória da personagem
encarnada? Será que ainda acreditavam ser seu próprio corpo físico, vivificado pelos outros veículos
inferiores? Não haviam percebido a existência desse EU superior, que lhes constituía a Individualidade,
que criara e animava a personagem? Ora, quem descobre e quem vê o EU, automaticamente
está vendo o Pai; porque o EU e o Pai são da mesma essência: o SOM, vibração criadora e o
SOM vibração criada, SÃO O MESMO SOM, a MESMA vibração, a MESMA substância que subestá
ao arcabouço da criatura.
Entretanto, toda essa “região” vibratória elevadíssima só é percebida pela consciência da Individualidade,
jamais chegando até a personagem: “A carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus”
(1.ª Cor. 15:50). No máximo, o intelecto poderá tomar conhecimento a posteriori; mas nem sempre
isso ocorre: quando o intelecto está demasiadamente absorvido nas lutas do ideal ou dos afazeres do
serviço, a Individualidade tem seus encontros místicos e nada lhe deixa transparecer. A consciência
“atual” nem sempre percebe o que ocorre na consciência espiritual superior.
Daí muitas ilusões que ocorrem:
A) personagens que colocam sua Imaginação a funcionar e “sentem”, no plano emocional, vibrações
deleitosas, e com o olho de Shiva do corpo astral percebem luzes, acreditam estar em contato com
o EU profundo e anunciam, jubilosos, esse equívoco, como se fora realidade; B) personagens que nada “sentem” e vivem no trabalho árduo de servir por amor, julgam não ter
tido ou não estar em contato. No entanto, vivem contatados e dirigidos diretamente pelo Eu profundo,
que os inspira e orienta totalmente.
Entre esses dois extremos, há muitos pontos intermediários, muitos matizes variáveis. Mas o fato é que
todo aqueles que, consciente ou inconscientemente na consciência “atual”, teve contato REAL, jamais
o diz, da mesma forma que o Homem jamais revela a estranhos os contatos sexuais que tenha mantido
com sua amada. Quanto a saber-se quem está ou não ligado, não é difícil para aqueles que se acham
no mesmo grau: SABEM nem é preciso que ninguém lhes diga.
Mas o Cristo prossegue em Sua lição sublime a Filipe: “não sabes que o Eu está no Pai, e o Pai está
no EU”? Realmente, lá fora antes ensinado que “seus anjos estão diante da Face do Pai” (Mat.
18:10; col. 6.º, pág. 52). E então é dada a prova imediata: “as palavras que vos falo, não as falo por
mim mesmo: o Pai, que habita no Eu, faz as obras. dele” (do próprio Pai, através do Eu, que é o intermediário).
Vem a seguir o apelo: “crede que o Eu está no Pai e o Pai no Eu, pois as próprias obras (érga) o demonstram”.
Ora, as obras do Cristo, através de Jesus, eram irrefutáveis e manifestas: domínio dos
elementos da natureza, das enfermidades, da matéria, das almas e dos corações. Inegável que, “pelos
frutos se conhece a árvore” (Luc. 6:44).
E como prova de que a todas as criaturas se dirige o ensino e de que o CRISTO está em todas as
criaturas, vem a garantia, precedida da fórmula solene (cfr. vol. 5.º, pág. 111): “Em verdade, em verdade
vos digo, que aquele que for fiel ao EU (que estiver a Ele unificado), esse fará as obras que faço,
e ainda maiores, porque o EU vai para o Pai (liga-se ao Pai) e tudo o que pedirdes em nome do EU
(por causa do EU, cfr. vol. 4.º pág. 136) o Eu fará, para que o Pai se transubstancie no Filho”. E repete:
“Se pedirdes algo em nome do Eu, o Eu fará”.
Aí temos uma lição prática de grande alcance. Muitos queixam-se de que pedem e nada conseguem;
mas pedem com a personagem desligada e em nome da personagem Jesus. Não é esse o “caminho”: o
caminho é o EU Profundo, o CRISTO interno. E para obter-se, com segurança, mister que estejamos
unificados com esse EU. Sem isso, o caso é aleatório, poderá conseguir-se ou não. Mas uma vez unificados,
sempre obteremos; o que não significa, porém, que o fato de obtermos; seja indício de que já
estamos ligados ao EU.
Essa obtenção é imediata e fatal porque, estando unificados com o EU, e estando o EU unificado ao
Pai, o EU volta-se (vai) ao Pai que é o Verbo Criador, e então pode “criar” tudo sem dificuldade.
E a razão de assim ser, é que o atendimento se faz “porque o Pai se transubstancia no Filho”. E esse
é o objetivo final. Não que o Pai “glorifique” o Filho, mas que o Filho seja absorvido pelo Pai, que
lhe comunica a plenitude (plerôma) de Sua substância. Torna-se, então, a criatura um Adepto, Hierofante
ou Rei, com domínio absoluto e soberania irrestrita. Isso ocorreu com Jesus e com outros sublimes
Avatares que se transformaram em Luz (Buddhas) e assistem junto ao trono do Ancião dos Dias,
na “Casa do Pai”.
Para lá caminhamos todos: oxalá cheguemos rapidamente!

LIVRO: Sabedoria do Evangelho - Carlos Torres Pastorino

terça-feira, 7 de setembro de 2010

EXAMINEMOS A NÓS MESMOS




André Luiz

L - Questão 919

O dever do espírita-cristão é tornar-se progressivamente melhor.
Útil, assim, verificar, de quando em quando, com rigoroso exame pessoal, a nossa verdadeira situação íntima.
Espírita que não progride durante três anos sucessivos permanece estacionário.
Testa a paciência própria: - Estás mais calmo, afável e compreensivo?
Inquire as tuas relações na experiência doméstica:
- Conquistaste mais alto clima de paz dentro de casa?
Investiga as atividades que te competem no templo doutrinário: - Colaboras com mais euforia na seara do Senhor?
Observa-te nas manifestações perante os amigos: - Trazes o Evangelho mais vivo nas atitudes?
Reflete em tua capacidade de sacrifício: - Notas em ti mesmo mais ampla disposição de servir voluntariamente?
Pesquisa o próprio desapego: - Andas um pouco mais livre do anseio de influência e de posses terrestres?
Usas mais intensamente os pronomes "nos", "nosso" e "nossa" e menos os determinativos "eu", "meu" e "minha"?
Teus instantes de tristeza ou de cólera surda, às vezes tão conhecidos somente por ti, estão presentemente mais raros?
Diminuíram-te os pequenos remorsos ocultos no recesso da alma?
Dissipaste antigo desafeto e aversões?
Superastes os lapsos crônicos de desatenção e negligência?
Estudas mais profundamente a Doutrina que professas?
Entendes melhor a função da dor?
Ainda cultivas alguma discreta desavença?
Auxilias aos necessitados com mais abnegação?
Tens orado realmente?
Tuas idéias evoluíram?
Tua fé raciocinada consolidou-se com mais segurança?
Tens o verbo mais indulgente, os braços mais ativos e as mãos mais abençoadoras?

Evangelho é alegria no coração: - Estás, de fato, mais alegre e feliz intimamente, nestes três últimos anos?
Tudo caminha! Tudo evolui! Confiramos o nosso rendimento individual com o Cristo!
Sopesa a existência hoje, espontaneamente, em regime de paz, para que te não vejas na obrigação de sopesá-la amanhã sob o impacto da dor.
Não te iludas! Um dia que se foi é mais uma cota de responsabilidade, mais um passo rumo à Vida Espiritual, mais uma oportunidade valorizada ou perdida.
Interroga a consciência quanto à utilidade que vens dando ao tempo, à saúde e aos ensejos de fazer o bem que desfrutas na vida diária.
Faze isso agora, enquanto te vales do corpo humano, com a possibilidade de reconsiderar diretrizes e desfazer enganos facilmente, pois, quando passares para o lado de cá, muita vez, já será mais difícil...

OS EVANGELISTAS



MATEUS (nome grego, Matháios, que significa “dom de Deus”, o mesmo que Teodoro). Seu nome
em hebraico era LEVI.
Diz Papias que “Mateus reuniu os “Logía” de Jesus (ou seja os discursos) , e cada um os traduziu
como pôde do hebraico em que tinham sido escritos”.
Todavia, jamais foi encontrada nenhuma citação de Mateus em hebraico, nem mesmo em aramaico.
Com efeito, em hebraico é que não escreveu ele, já que desde 400 anos antes de Cristo o hebraico não
era mais falado, e sim o aramaico, que é uma mistura de hebraico com siríaco. Parece, pois, que Papias
não tinha informação segura.
Um argumento em favor do hebraico ou aramaico de Mateus original são seus numerosíssimos hebraismos.
Entretanto, qualquer tradutor teria o cuidado de expurgar a obra dos hebraísmos. Se eles
aparecem em abundância, é mais lógico supor-se que o autor era judeu, e escrevia numa língua que ele
não conhecia bem, e por isso deixava escapar muitos barbarismos.
Supõe-se que Mateus haja escrito entre os anos 54 e 62.
Dirige-se claramente aos judeus (basta observar as numerosas citações do Velho Testamento e o esfor-
ço para provar que Jesus era o Messias prometido aos judeus pelos antigos Profetas) . Mateus mostrase
até irritado contra seus antigos correligionários.
MARCOS, ou melhor, JOÃO MARCOS, era sobrinho de Pedro. O nome João era hebraico, mas o
segundo nome Marcos era puramente latino. Não deve admirar-nos esse hibridismo, sabendo-se que os
romanos dominavam a Palestina desde 70 anos antes de Cristo, introduzindo entre o povo não apenas a
língua grega, como os nomes latinos e gregos. (Os romanos impuseram a língua latina às conquistas do
ocidente e a grega às do oriente, daí o fato de falar-se grego na palestina desde 70 anos antes de Cristo,
por coação dos dominadores) .
Marcos escreveu entre 62 e 66, e parece que se dirigia aos romanos, tanto que não vemos nele citações
de profecias; apenas uma vez (e duvidosa) cita o Velho Testamento. Mais: se aparece algo de típico dos costumes judaicos, Marcos apressa-se a esclarecer, explicando com pormenores o de que se trata,
como estando consciente de que seus leitores, normalmente, não no perceberiam.
LUCAS, abreviatura grega do nome latino Lucianus, não tinha sangue judeu: era grego puro, de nascimento
e de raça. Escreveu em linguagem correta, entre 66 e 70, interpretando o pensamento de Paulo
a quem acompanhava nas viagens apostólicas, talvez para prestar-lhe assistência médica, pois o pró-
prio Paulo o chama “médico querido” (cfr. 2.a Cor. 12:7) .
Todo o plano de sua obra é organizado, demonstrando hábito de estudo e leitura e de pesquisa.
JOÃO, chamado também “o discípulo amado”, e mais tarde “o presbítero”, isto é, o “velho”. Filho de
Zebedeu, e portanto primo irmão de Jesus, acompanhou o Mestre no pequeno grupo iniciático, com
seu irmão Tiago e com Pedro.
Clemente de Alexandria diz ter João escrito o “Evangelho Pneumático”. Sabemos que “pneuma” significa
“Espírito”. Então, é o Evangelho espiritual. Em que sentido? Escrito por um Espírito? “Pneumografado
”? Tal como hoje dizemos “psicografado”?
João escreveu entre 70 e 100, tendo desencarnado em 104.
Seu estilo é altaneiro, condoreiro e seu Evangelho está. repleto de simbolismos iniciáticos, tendo dado
origem a uma teologia.
Linguisticamente, Lucas é o mais correto e Marcos o mais vulgar testando Mateus e João escritos
numa linguagem intermediária.